quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A NOITE DOS MORTOS VIVOS (1968)




































































"Um pesadelo granulado em preto e branco que mudaria o curso dos filmes de terror para sempre..." - (Stephen King).

Milhares de filmes são feitos todos os anos, mas apenas algumas centenas recebem um certo destaque. Destes, poucas dezenas são sucessos de bilheteria e crítica, contudo são raras as produções que passam a servir de referência e influenciam toda uma geração. Cada um com a sua proporção e épocas distintas, podemos citar MATRIX, O SENHOR DOS ANÉIS, CASABLANCA, O PODEROSO CHEFÃO, CIDADÃO KANE e por aí vai. No gênero do terror, no entanto, estes filmes são ainda menos freqüentes: TUBARÃO, HALLOWEEN, PSICOSE, O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA... Só que desses, nenhum teve tanta importância histórica, cultural e estética e ao mesmo tempo foi tão problemático para seus realizadores quanto A NOITE DOS MORTOS VIVOS, do então estreante em longas George A. Romero. Se você não conhece a obra-prima desse mestre, está na hora de conhecer e se deleitar com este maxi-artigo sobre o clássico; se já assistiu e quer saber quase tudo sobre ela, veio ao lugar certo. Relaxe na poltrona e boa leitura, pois os mortos se levantaram de forma definitiva nesta surpreendente produção de 1968, que há quase 40 anos aterroriza fãs do verdadeiro cinema de terror no mundo inteiro.

Capítulo 0 - The Latent Image - Tudo Começa Aqui:

Para começar a falar sobre
A NOITE DOS MORTOS VIVOS de maneira mais completa, primeiramente vamos olhar um pouco para o passado e falar sobre a The Latent Image, produtora que foi a pedra fundamental e o marco zero de toda a mitologia que envolve o filme. Tudo começa com George Romero, que sempre teve o "bichinho" do cinema e, após sair do Instituto de Tecnologia de Carnegie-Pittsburg antes da graduação, recrutou seus colegas de colégio Richard Ricci e Russ Streiner para ajudar a criar uma produtora. Seu amigo de longa data John Russo também queria entrar no negócio, mas ele havia se alistado nas forças armadas por dois anos: "George e Russ me disseram que estavam começando uma companhia de filmes comerciais e quando eu saísse e estivesse com mais tempo poderia me juntar a eles", disse Russo em entrevista.

Então foi com uma câmera de 16mm, algum equipamento barato de iluminação e cinco mil dólares emprestados pelo tio de Romero, que estes três jovens ambiciosos começaram a procurar trabalho em pequenos filmes para TV e comerciais. Ricci encontrou um pequeno lugar que seria seu "escritório", todavia pouco depois saiu da empresa. Como forma de agradecimento ajudou os membros remanescentes - Romero e Streiner – deixando pago seis meses de aluguel adiantado. "Vocês tem este lugar por seis meses", disse Ricci, "vejam se conseguem transformar isso em alguma coisa". E assim os dois se mudaram. O escritório original da Latent Image era um cubículo localizado ao sul de Pittsburg. Russo se recorda do difícil início da caminhada: "Não havia equipamento de aquecimento ou, se havia, não funcionava... Em algumas manhãs de inverno George e Russ tinham que cortar gelo da privada antes que pudessem dar descarga".

Alguns trabalhos apareceram - a grande maioria se tratava de casamentos e chás de bebê – contudo isso não rendia muito dinheiro. Às vezes Romero vendia uma pintura a óleo por 50 dólares para faturar algum, entretanto eles não desistiram, mesmo que isso significasse trabalhar sem almoço por vários dias consecutivos. As vacas continuaram magras até que, em 1963, uma oportunidade de investimento bate a porta: depois que eles colocaram um anúncio procurando investidores para um possível projeto de cinema, Vince Survinski chega a Latent Image com 10 mil dólares. A produção seria uma história escrita por Rudy Ricci (prima de Richard Ricci) sobre um homem da Alemanha Ocidental que fugiu da prisão. Problemas ocorreram no decorrer e o projeto naufragou durante o desenvolvimento com todo o dinheiro sendo gasto.

Mesmo com o dinheiro desperdiçado, Survinski demonstrou ser um homem de visão ao oferecer mais 10 mil para a empresa, desde que eles concordassem em torná-lo um parceiro na companhia. Eles aceitaram e a parceria Romero-Survinski rendeu muito de seus futuros projetos de cinema. Em seguida acontece o primeiro sucesso da Latent Image: um comercial rápido e eficiente para o "Buhl Planetary Sky Show". Larry Anderson - o cliente em questão - queria que neste comercial aparecesse um foguete pousando na Lua, se fossem bem sucedidos levariam 1600 dólares, mais do que qualquer trabalho já feito antes. Obcecados pelo trabalho, Romero pintou os planos de fundo, Steiner ajudou com moldes de barro para simular a superfície lunar e outro primo de Ricci cedeu o foguete. Triunfaram, o comercial apareceu na TV e nos drive-ins da área com enorme sucesso e encontraram mais clientes. Em 1965 conseguem mudar de escritório no centro da cidade, com a chegada de John Russo, retornando do serviço militar. Os clientes entravam gradualmente. Em 1967 tiveram progresso o suficiente para se tornar uma produtora totalmente equipada, com o trio trabalhando incessantemente: Romero, Steiner e Russo passavam muitas noites sem dormir viajando, editando e/ou filmando: "Criamos uma reputação em alguns círculos de sermos um núcleo de maníacos criativos que podiam fazem bons filmes com pouco dinheiro. No entanto passávamos quase a maior parte do tempo quebrados, frustrados e exaustos", desabafou Russo. Eles estavam entediados de fazerem apenas comerciais e queriam um filme de horror...mal sabiam o passo gigante que estariam dando...

Capítulo I - Da Idéia ao Roteiro - Do Cemitério Nasce o Mito

Na época, capitalizar sobre os filmes de terror era lucro certo, pois a indústria de filmes "tinha sede pelo bizarro", disse Romero, mas só as intenções não bastavam. A Latent Image não possuía capital suficiente para começar um projeto desta magnitude e precisariam captar investimentos externos. Desta forma, Romero e Streiner contataram Karl Hardman e Marilyn Eastman, presidente e vice-presidente respectivamente de uma firma de filmes industriais de Pittsburg chamada Hardman Associates Inc. e lançaram a idéia da película de horror ainda sem título ou história definidas. Então desta parceria uma nova empresa foi fundada, a Imagen Ten - composta por Romero, Russo, Streiner, Hardman e Eastman - e levantaram aproximadamente 114 mil dólares para orçamento do filme. A partir daí, nasceu e se desenvolveu sobre o que seria a película propriamente dita. De acordo com o livro de John Russo - intitulado "The Complete Night of the Living Dead Filmbook" - assim que a Image Ten se solidificou eles queriam iniciar logo para que a chama que fez com que a empresa se iniciasse não apagasse. Era difícil, pois os envolvidos continuavam trabalhando nos filmes industriais e comerciais, havendo pouco tempo para se escrever um roteiro.

Para que o filme não morresse de inércia, Romero e Russo passavam algumas horas livres durante a noite debatendo e eventualmente escrevendo idéias para o que seria uma bagaceira sobre monstros (ou um "monster flick", título provisório nas palavras de Russo). Destas sessões noturnas dois conceitos descartados continham elementos que, subconscientemente ou de propósito, levariam as formas do que chegaria em A NOITE DOS MORTOS VIVOS. O primeiro - e o principal candidato a ser filmada - seria um terror com tons de comédia sobre monstros do espaço: alguns adolescentes alienígenas se envolveriam com adolescentes da Terra, tornando-se amigos, enquanto figuras de autoridade bem caricatas tentariam, em vão, captar evidências de tudo o que está acontecendo. Os alienígenas teriam um animalzinho comilão chamado "The Mess", que parece um monte de spaghetti; e haveria um xerife devidamente chamado de "Xerife Suck", que é totalmente inábil, servindo de alvo de brincadeiras dos adolescentes. O segundo era um mero filme de zumbis... Hehehe, brincadeira... De fato o tratamento original para A NOITE..., escrito por George Romero, não era nem um pouco inspirador: duas figuras sinistras caminham a noite em um cemitério carregando um caixão. Sob a luz da lua, vemos que uma das figuras é um monstro com dentes longos e afiados e veias saltantes na testa e pescoço. Um misterioso meteoro cai na distância. Ambos são monstros, mas usam máscaras de borracha para se disfarçar de humanos normais. Eles reclamam do cansaço de carregar aquela caixa pesada, a caixa é aberta e dentro 24 garrafas de cerveja (!). A cerveja foi roubada do Xerife Suck e os jovens monstros acreditam que até amanhã estará gelada para ser apreciada no cemitério.

A partir daí apareceria um OVNI (o tal meteoro), onde sairiam os adolescentes alienígenas com o bichinho "The Mess".A razão pela qual o projeto foi abandonado é que o orçamento não permitiria realizar aquele tipo de efeitos especiais, então foram forçados a pensar um pouco menos em termos de logística. O próximo tratamento, escrito por Russo, sugeria o seguinte (resumidamente): "Uma criança corre após uma briga com seu irmão mais novo. Ele corre para a floresta e logo se encontra só em meio a uma neblina espessa. O garoto ouve estranhos sons e percebe que está sendo perseguido, ele volta a correr e pisa numa grande chapa de vidro. Ele corta o tornozelo e vê horrorizado que um corpo em decomposição está na terra debaixo da chapa de vidro. Ele perde a consciência e cai". A idéia é que estes corpos estariam sendo cultivados para alimentar os alienígenas ou algum outro tipo de monstro. No primeiro mês da Image Ten nada de consistente e definitivo havia sido escrito, até que após um fim de semana Romero, inspirado no livro I Am Legend, de Richard Matheson, surpreende Russo com 14 páginas de uma história excelente, que se tornaria praticamente a primeira metade de A NOITE DOS MORTOS VIVOS. Finalmente tinham algo para trabalhar em cima.

Ao contrário dos tratamentos escritos anteriormente, este era um filme para assustar as pessoas. Ao invés de pessoas vivas comendo os mortos, eram os cadáveres reanimados que canibalizavam os vivos, tinha tensão, horror e podia ser feito com orçamento modesto sem soar ridículo. Segundo o próprio Romero, este tratamento se dividia em três histórias curtas, a primeira sendo utilizada em A NOITE... e as outras duas nas seqüências DESPERTAR DOS MORTOS e DIA DOS MORTOS. Com a primeira metade pronta, o restante da Image Ten reunia-se freqüentemente para discutir a segunda metade e John Russo fez toda a roteirização, pois o tratamento de Romero estava em forma de conto. No rascunho, o personagem Ben era um chucro e mal-educado motorista de caminhão - isso foi mudado durante as audições quando Duane Jones entrou no elenco e se recusou a interpretar um personagem assim.

Outras modificações foram que Tom seria um homem de meia idade, coveiro do cemitério e não tinha uma namorada. Todas as cenas com os generais e repórteres também não eram previstas inicialmente e foram enxertadas com o tempo, dando proporções drasticamente maiores ao que deveria ser uma crise local. Entre os produtores muito se discutiu se aquele fenômeno precisava de uma explicação. Russo queria que durante o filme, os cientistas e militares apenas ficassem especulando sobre os motivos que levavam os mortos a se levantar, mas por pressão do restante do grupo, ficou a idéia de que teria sido uma sonda de Vênus foi aprovada (apenas a hipótese, nunca a confirmação), isso aconteceu porque até o momento a grande maioria dos filmes de ficção científica careciam de uma explicação. Outra mudança importante aconteceu - e esta foi a de maior impacto que fez toda a diferença - porém como se trata de um gigantesco Spoiler, ele será tratado mais a frente. John Russo fechou o script ainda sem nome, (só que mesmo assim alguns diálogos foram improvisados como disse a atriz Judith O'Dea em entrevista) e os envolvidos estavam empolgados, porque era um roteiro "acreditável", em que as pessoas poderiam seenvolver com ele e era distante de tudo que havia sido feito antes - estavam absolutamente certos.
Capítulo II - O Filme - Os Mortos Finalmente se Levantam
"Night of Anubis" e "Night of the Flesh Eaters" foram títulos cotados para o roteiro, ficando este último como definitivo até a distribuição e as filmagens ocorrerem entre Junho e Dezembro de 1967 - alternando com os compromissos em filmes industriais e comerciais dos envolvidos - nas proximidades da cidade de Evans City, Pennsylvania ao norte de Pittsburgh. O filme abre com Johnny (Russell Streiner) e Barbra (Judith O'Dea) indo de carro para um cemitério numa localidade rural na Pennsylvania a fim de visitar o túmulo do pai. Johny tenta sua irmã que tem medo de cemitérios, entretanto mal sabia ele que um verdadeiro terror estava por vir. Um homem pálido e de andar lento (William Hinzman) se aproxima e com ferocidade agarra Barbra. Johnny consegue salvá-a, mas enquanto luta com o estranho cai com a cabeça em uma lápide. Barbra tenta fugir com o carro enquanto o homem a persegue. O carro bate em uma árvore e ela corre a pé para uma casa nas proximidades, ao explorar a casa vazia, ela descobre um corpo mutilado no topo das escadas. Em pânico e tentando fugir da casa, Barbra é interceptada por Ben (Duane Jones), que chega em uma caminhonete e ataca as figuras misteriosas com uma chave de roda. Ben entra na casa e demonstra racionalidade ao se certificar de pregar todas as portas e janelas do térreo, enquanto a garota está catatônica e incapaz de proferir uma palavra.
Ben encontra uma arma e liga o rádio, que informa que se trata de uma crise nacional. Em toda a parte uma onda de assassinatos sem motivo aparente desafia a ação das autoridades. Nesse meio caótico a porta do porão se abre e lá se encontram a família Cooper, composta por Harry, a esposa Helen e a filha doente Karen (de fato uma família real composta por Karl Hardman, Marilyn Eastman e Kyra Schon respectivamente) e um casal de jovens, Tom (Keith Wayne) e Judy (Judith Ridley). Eles se escondiam no porão, embora ouvissem os ruídos emitidos por Ben e Barbra, mas acreditavam se tratar de outros mortos vivos. Então durante uma boa parte do filme vemos uma "queda de braço" entre o desesperado Harry - que quer que o grupo se tranque no porão - e o racional Ben, e sua opinião completamente oposta, pois acredita que estariam numa armadilha sem saída. Harry não aceita a supremacia de Ben sobre elementos vitais para sobreviver a crise - como o rádio, suprimentos e o rifle - e tentará artimanhas egoístas que colocarão a vida de todos em risco.Neste meio tempo, uma televisão é encontrada, um noticiário de emergência é exibido incessantemente e explicações são dadas a conta-gotas para esta situação - provavelmente a radiação emanada de uma sonda vinda de Vênus estaria causando os recém-mortos voltarem a vida - além da proliferação do caos e da paranóia espalhado pelo país. Será que no clima claustrofóbico da casa seus eventuais habitantes conseguirão cooperar para sobreviver a esta noite e fugir? Haveria uma solução que evite a iminente invasão dos zumbis sedentos por carne humana que se amontoam do lado de fora da frágil casa de madeira?

ATENÇÃO - Spoiler violento no próximo parágrafo. Ler sem assistir ao filme fará um zumbi puxar seu pé a noite... No capítulo anterior eu mencionei uma última modificação que foi fundamental em comparação com o roteiro original. Pois bem, ao final na primeira versão de John Russo, Barbra sobreviveria ao ataque daquela fatídica noite, ficando com Ben no porão (a idéia foi aproveitada no remake de 1990). Matar todo o elenco principal naquele tempo poderia significar suicídio comercial e a equipe preferiu arriscar. Em suas mentes, mesmo que as pessoas odiassem, isso seria chocante o suficiente para que elas ficassem marcadas e saíssem do cinema tagarelando para os amigos e parentes - o tiro foi tão certeiro quanto o que Ben leva no meio da testa. O sucesso agora era questão de tempo. Não há muito que se falar do roteiro, ele é simples, direto e delicado como uma marreta. O que mais impressiona é o clima opressor, toda a sorte de infortúnios e atitudes dos "cativos", que são tão violentas e cruéis quanto o canibalismo do lado de fora. Romero nos entregou de bandeja um filme único, com uma assinatura muito copiada e pouco igualada. A fotografia é desoladora e esplendorosa, a técnica é requintada e muito pouco se perde por se tratar de um filme de baixo orçamento. Mesmo que o passar do tempo tenha corroído um pouco do impacto de A NOITE DOS MORTOS VIVOS, que hoje a primeira vista as imagens pareçam toscas, a violência contida, o sangue espirrando aos poucos, a péssima atuação de George Kosana (diretor de produção da Image Ten) como o Xerife McClelland... Estes "defeitos" não passam de detalhes, pois visto como um todo a produção é irretocável. Certos elementos se "modernizados" ou "melhorados" não surtiriam o mesmo efeito no público. Poucos filmes têm a capacidade de transpor o elemento de fantasia e incorporar o medo verdadeiro - totalmente justificável ao espectador.
Não existem saídas mirabolantes, nem capacidade para entender e tampouco há tempo para fugir. É a autêntica história de uma situação que começa ruim e aos poucos se torna insustentável.
Capítulo III - Produção e Distribuição - Simplicidade Que Revolucionaria o Cinema
Pouco dinheiro. Tudo o que foi feito em A NOITE DOS MORTOS VIVOS foi pensando no minúsculo orçamento. Para driblar este tipo de problema e ainda assim fazer um filme sério, muitas concessões precisaram ser feitas, a começar pelo elenco: a Image Ten precisava contratar atores desconhecidos, então a produtora foi buscar nos teatros de Pittsburgh (como Duane Jones, Judith O'Dea...), nos membros da própria Image Ten (como Karl Hardman, Marilyn Eastman, Russell Streiner...) e indicações de Romero (como Judith Ridley e a maioria dos zumbis figurantes). Ironicamente, este tipo de atitude econômica acabou ajudando a dar mais credibilidade ao filme, como se fossem realmente pessoas comuns enfrentando toda aquela horda de mortos vivos. Outra modificação para contenção de gastos que funcionou muito foram as filmagens em preto e branco com uma câmera 35mm - dando um ar mais documental e um sentimento maior de urgência - para não dizer que com isso era possível ocultar certas imperfeições nos efeitos especiais que poderiam ser comprometidos de outra forma. Os efeitos precisavam ser simples e ainda sim eficientes. O sangue, por exemplo, era calda de chocolate que melecava os corpos dos atores. O figurino consistia de roupas de segunda mão, enquanto cera servia como maquiagem de zumbi. Marilyn Eastman trabalhava como supervisora dos efeitos, roupas e maquiagem.
Para conter custos os efeitos sonoros também foram feitos pela Image Ten e a trilha sonora foi pega de vários outros filmes e programas para a TV. Estas músicas pertenciam a Hardman Associates e foram compradas anteriormente (por 1500 dóleres) da biblioteca de sons da EMI/Capitol Records. Enfim, com a produção concluída, ainda havia outro obstáculo a ser superado: encontrar uma distribuidora que aceitasse o projeto mantendo as cenas violentas intactas. Entre as empresas que recusaram o filme estão a American International Pictures e a Columbia, que exigiram cortes e que o final fosse refeito. A proposta foi totalmente ignorada pelos produtores: "Nenhum de nós queria fazer aquilo. Não poderíamos imaginar um final feliz", admitiu Romero (curioso que a Columbia futuramente seria a distribuidora do remake de 1990). A busca terminou na Walter Reade Organization - com sede em Manhattan -, que aceitou exibir o filme sem censura, porém pediu aos produtores que trocassem o título do filme de "Night of the Flesh Eaters" para o final NIGHT OF THE LIVING DEAD, porque outro filme com título similar já havia sido lançado (o filme em questão é The Flesh Eaters de 1964).
Capítulo IV - Estréia e Problemas - As Críticas e o Filme se Torna do Povo

Primeiro de Outubro de 1968 - uma data histórica para o gênero - a premiere de A NOITE DOS MORTOS VIVOS ocorre em Pittsburg no Fulton Theate e, no restante dos Estados Unidos, a película era exibida na forma de matine aos sábados a tarde - como era típico nas décadas de 50 e 60 - atraindo uma audiência constituída basicamente de pré-adolescentes e jovens adultos. Curioso é que não havia classificação indicativa - o sistema em vigor atualmente nos Estados Unidos seria aplicado apenas no mês seguinte - assim os donos dos cinemas e os pais em geral não poderiam proibir que crianças entrassem para assistir ao filme: "As crianças na audiência estavam atordoadas. Era quase um completo silêncio. O filme passou de ser deliciosamente assustador até a metade quando se tornou terrivelmente amedrontador. Havia uma menina, devia ter uns nove anos, que estava sentada rígida no banco e chorava...", apontou um crítico na época do lançamento. Os críticos em geral detestavam os efeitos muito violentos para a época. A conceituada revista Variety chamou a produção de uma "orgia de sadismo" e questionou a "integridade e responsabilidade social de seus realizadores"; o jornal The New York Times usou o termo "lixo" para descrever o filme; grupos cristãos fundamentalistas acusaram os cineastas como satanistas e o tratamento das personagens femininas atraiu a fúria de uma pequena - massignificante - turba de feministas. Claro que houve quem visse que uma revolução se avizinhava no filme de Romero - e não eram poucos - assim como havia as pessoas que encontraram nas personagens e situações mostradas uma importância ainda maior em sua crítica social, que ia desde o conflito no Vietnã até a figura do líder do grupo Duane Jones, um negro. O filme, de maneira geral, refletia a época tensa, nas palavras de Romero: "Era 1968. Todos tinham uma mensagem para passar. A ira e a atitude estão lá porque eram os anos 60”. Coincidências ou não, muito se falou e muito se polemizou. Isso fez um bem tremendo para o filme que derrubou qualquer barreira que limitasse o seu sucesso. Apesar de não muito bem no início, com o boca a boca o filme se popularizou e rendeu algo entre 12 e 15 milhões apenas nos Estados Unidos, foi traduzido em mais de 25 línguas e lançado na Europa, Canadá e Austrália, rendendo mais de 30 milhões no mundo inteiro. Tudo andava muito bem, porém eles nem imaginavam que ao mesmo tempo algo péssimo acontecia: nos Estados Unidos, a lei de direitos autorais do ano de 1968 (que durou até 1989) dizia que o título da produção deveria conter uma informação de copyright (confiram esta informação no rodapé dos títulos nos filmes desta época ou nos créditos iniciais), a Image Ten tinha esta informação enquanto o título era Night of the Flesh Eaters, entretanto quando a Walter Reade Organization solicitou a troca do nome para Night of the Living Dead, a informação foi retirada (ou esquecida). Esta simples atitude tornou o filme de domínio público impediu toda e qualquer angariação financeira por conta de futuros relançamentos, distribuição doméstica e refilmagens. Segundo George Romero, a Walter Reade "nos cortou fora". Mais informações sobre isso no capítulo extra ao final .
Capítulo V - O Futuro Após a Noite - Como Elenco, Produção e o Terror Mudaram
Apesar dos pesares, todos os envolvidos ganharam notoriedade na época. No entato, é de se lamentar que somente alguns poucos tenham conseguido projeção maior e reconhecimento. Abaixo você confere os integrantes principais do elenco e produção e o que aconteceu com eles após o grande estouro do filme:

A NOITE DOS MORTOS-VIVOS (Night of the Living Dead , Estados Unidos, 1968). Direção: George A. Romero Roteiro: John A. Russo e George A. Romero Produção: Russell W. Streiner e Karl Hardman Fotografia: George A. Romero Música: Scott Vladimir Licina Efeitos Especiais: Tony Pantanello; Regis Survinski Maquiagem: Bruce Capristo; Vincent J. Guastini; Karl Hardman Edição: George A. Romero; John A. Russo Elenco: Duane Jones (Ben); Judith O'Dea (Barbra); Karl Hardman (Harry Cooper); Marilyn Eastman (Helen Cooper); Keith Wayne (Tom); Judith Ridley (Judy); Kyra Schon (Karen Cooper); Charles Craig (Apresentador do Jornal); S. William Hinzman (Zumbi do Cemitério); George Kosana (Xerife McClelland); Frank Doak (Cientista); Russell Streiner (Johnny); Vincent D. Survinski (Vince)

  • NOTA: 10,0

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