sexta-feira, 26 de março de 2010

PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS (1980)



"Esta cidade nunca mais foi a mesma depois que o Padre Thomas se enforcou."

Repleto do melhor e do pior do cinema italiano dos anos 80 (uma das melhores safras do gênero), PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS, de Lucio Fulci, é o maior exemplo de como um filme pode ser valorizado pelo "gore", ou seja, pela quantidade de sangue e tripas que exibe. .Feito logo depois do clássico ultraviolento ZOMBIE (1979), sucesso que encabeça a lista dos melhores de Fulci, "Pavor Na Cidade Dos Zumbis" foi lançado em 1980 e mistura o gênero mortos-vivos com sessões espíritas, premonições, mortes violentas, fenônemos sobrenaturais e um livro demoníaco. Nos Estados Unidos, o título amalucado foi simplificado para "Gates of Hell" (Os Portões do Inferno), mas algumas cópias circulam com o título de "City of the Living Dead" (Cidade dos Mortos-vivos).






Muito do estilo narrativo de Fulci pode ser encontrado neste que é um dos seus primeiros filmes de horror: há os tradicionais closes nos olhos das vítimas, há as mortes extremamente violentas (algumas totalmente gratuitas e sem sentido), há a música "demoníaca" de Fabio Frizzi, há os supercloses no rosto de pessoas com expressão de pavor e em feridas abertas ou vermes rastejando.









PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS começa muito interessante, mostrando uma cidadezinha chamada Dunwich, onde o sinistro padre William Thomas (Fabrizio Jovine) passeia por um cemitério até resolver se suicidar no galho de uma árvore. Depois que ele comete suicídio, a câmera lentamente passeia por algumas lápides (ao som da música arrepiante de Frizzi) até parar em frente a um túmulo, onde um corpo putrefato lentamente sai debaixo da terra - uma citação direta a uma das cenas mais famosas de ZOMBIE (1979).

É quando descobrimos que este pesadelo faz parte das visões de Mary (Katherine MacColl, outra colaboradora habitual de Fulci, que apareceria posteriormente em THE BEYOND, de 1981,
e A CASA DO CEMITÉRIO, de 1982). Ela é uma vidente que está participando de sessão espírita no centro de Nova York. Aterrorizada com o que vê (e Fulci faz questão de mostrar isso com supercloses nos olhos arregalados da moça), Mary cai no chão entre espasmos e grita "A cidade dos mortos! A cidade dos mortos!". Surpreendentemente, o diálogo sai em alto e bom italiano!!!! Isso mesmo!!! A cópia lançada no Brasil (pela extinta Dado Group) não foi a americana, que tradicionalmente dublava (pessimamente) os diálogos originais em italiano, e sim a original!







Voltando ao filme, Mary tem um ataque de ansiedade e morre... DE MEDO! Este é um detalhe que mais tarde voltará a ser abordado, embora Fulci desperdice a idéia. A polícia chega e não acredita na história de que a vidente tenha morrido por causa de suas visões, acusando todo o grupo que participou da sessão espírita de ter usado drogas e provocado a morte da moça. É quando a sinistra Madame Teresa (Adriana Asti), que fala arregalando os olhos e virando direto para a câmera, avisa os policiais de que o terror está para começar em uma pequena cidadezinha, e que tudo está escrito em um livro de quatro mil anos atrás chamado Livro de Enoch!



Sabe-se lá o porquê dos roteiristas Fulci e Sacchetti terem incluído um livro demoníaco e antigo na história, já que ele só é citado brevemente nos dez minutos iniciais e depois esquecido sumariamente. Reparem que no posterior THE BEYOND a dupla faz a mesma coisa, mostrando um tal Livro de Eibon que também tem poderes sobrenaturais, e, ao mesmo tempo, pouca ou nenhuma relação com a história. Trata-se de mais um dos mistérios dos roteiros do horror italiano.



Paralelamente às cenas em Nova York, o filme mostra a pequena Dunwich, onde estão começando a acontecer fenômenos sobrenaturais, confirmando a previsão de Madame Teresa. Um doente mental chamado Bob (interpretado por Giovani Lombardo Radice, famoso pela cena onde é castrado em "Cannibal Ferox", de Umberto Lenzi) é considerado o responsável por algumas misteriosas mortes acontecidas no local, já que é filho de uma feiticeira, jovens garotas são encontradas mortas de medo, literalmente, e Bob é acusado de violentá-las. Mas a verdade é que elas foram atacadas pelo zumbi do padre Thomas (aquele que se enforcou no começo da história). Uma das primeiras vítimas morre quando o zumbi esfrega um monte de carne putrefata, vermes e minhocas vivas em sua boca - em cena repelente.



Voltamos a Nova York e Mary está sendo sepultada (sem passar por qualquer exame ou autópsia), enquanto um jornalista curioso, Peter Bell (o canastrão Christopher George, mais conhecido pelo seu trabalho em "O Terror da Serra Elétrica", do espanhol Juan Píquer Simon), investiga a morte misteriosa durante a sessão espírita. Em uma das grandes cenas do filme, Mary acorda no interior do caixão quando está parcialmente sepultada. Ela começa a gritar, bater e arranhar o topo de madeira do caixão, arrancando as unhas e ensangüentando todo o forro. A cena é arrepiante pela sonoplastia dos dedos sendo rasgados contra a madeira.


Por sorte (ou por "coisa que só acontece em filme, Peter estava no cemitério na mesma hora; ele escuta os gritos de Mary, pega uma picareta e quase mata a moça ao enfiar a ferramenta no tampo do caixão, atravessando-o - a ponta da picareta pára a alguns milímetros da testa da garota! É quando Fulci dá um close na tampa do caixão arrebentada e mostra o rosto pálido e apavorado de Mary gritando no interior. Um verdadeiro pesadelo!


Mary conta ao jornalista toda a história da "cidade dos mortos-vivos" mas, curiosamente, Dunwich não aparece em nenhum mapa. Eles começam a investigar, saindo a esmo de carro atrás da tal cidade.

Voltando a Dunwich, os fenômenos sobrenaturais continuam. Uma das cenas mais memoráveis é aquela em que um casal namorando num carro, perto do cemitério, é atacado pelo zumbi do padre. O rapaz é o futuro diretor Michele Soavi (de "O Pássaro Sangrento" e "A Catedral"). O "fantasma" do padre faz com que o carro pare de funcionar e as portas se tranquem. Depois, coloca a namorada de Soavi em transe, faz com que saiam lágrimas de sangue dos seus olhos (uma impressionante cena em close que até agora estou tentando descobrir como eles fizeram, porque não é "efeito de computador") e depois obriga a mocinha a vomitar seus próprios intestinos (é ver para crer!). Mais uma cena aterradora, violenta e muito nojenta concebida pelo mestre da maquiagem Gianetto de Rossi, outro colaborador habitual de Fulci e espécie de Tom Savini italiano. A chacina termina com a mocinha transformada em zumbi e apertando a parte de trás da cabeça de Soavi até seu cérebro ser espremido para fora! A cena ficou tão boa que é repetida mais duas vezes até o fim do filme!!!

No que Peter e Mary chegam a Dunwich, Descobre-se que a cidade foi construída sobre as ruínas de Salem, aquela famosa cidade das feiticeiras (o que é historicamente equivocado, já que Salem existe até hoje, no Estado americano de Massachussetts). Cadáveres desaparecem do necrotério e aparecem em casas de pessoas, mortos viram zumbis que também aparecem e desaparecem, pessoas são mortas sem qualquer motivo, paredes de concreto armado se abrem em rachaduras, uma chuva de vermes invade uma casa, seguida por uma chuva de cacos de vidro (cena citada no posterior THE BEYOND), e por aí vai. Ao mesmo tempo, Peter e Mary ficam algum tempo circulando pela cidade sem motivo e encontram aliados no psiquiatra local, Jerry (Carlo De Mejo) e na pintora Sandra (a gatinha Janet Agren, que participou do filme de canibais "Os Vivos Serão Devorados", de Umberto Lenzi).






Depois que quase todos os personagens do filme são mortos por zumbis que aparecem e desaparecem como fantasmas (e aparentemente não comem carne humana, apenas arrancam pedaços das pessoas), inclusive Sandra, que tem o topo de sua cabeça arrancado por um morto-vivo, Peter, Mary e Jerry resolvem encontrar o túmulo do padre Thomas no cemitério para dar um fim no "chefe dos zumbis". Legal é que o túmulo do padre é uma verdadeira catacumba, escura e repleto de teias de aranha e cadáveres putrefatos que vão voltar à vida e atacar os heróis.

PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS é valorizado pela figura do padre demoníaco, que tem uma cara realmente assustadora (e, num close, lembra o Drácula interpretado por Christopher Lee nos filmes da Hammer). Vale também por dois dos momentos mais violentos do cinema de Fulci, jamais superados pelo diretor: a cena onde a cabeça de Bob é atravessada por uma broca e o momento onde um dos personagens principais tem um pedaço da cabeça arrancado por um zumbi e ratos banqueteiam-se com seu cérebro (argh!).



A cena da broca é particularmente impressionante pelo seu realismo. Parece que o ator está realmente sendo executado. Em sua fixação por explicitar o máximo possível as cenas de morte, Fulci e o maquiador De Rossi fazem a broca entrar por um lado da cabeça e sair pelo outro, arrebentando a pele, sem cortes! Se fosse um filme americano, provavelmente iria cortar assim que a cabeça estivesse bem próxima da broca, mostrando um close de uma parede próxima e o sangue espirrando nela. Então, méritos para o cinema "gore" e ''Trash'' italiano, que tem colhões para mostrar barbaridades como esta!

Para resumir, o filme é uma preciosidade no Brasil porque foi lançado nos tempos do "boom" do videocassete, em 1987, e hoje é uma raridade disputada a tapa por colecionadores. Em 1995, a distribuidora Reserva Especial relançou alguns títulos de Fulci originalmente lançados pela Dado Group, como THE BEYOND (que ganhou o péssimo título de "A Casa do Além") e A CASA DO CEMITÉRIO. Misteriosamente, esqueceu de PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS. Ou faliu antes, quem sabe?
Enfim o filme é mais um dos clássicos do Horror Italiano ao lado de pérolas como ZOMBIE (1979), THE BEYOND (1981) e CASA DO CEMITÉRIO (1981).

PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS (Paura nella città dei morti viventi , Itália, 1980) - 91 minutos
Gênero: Terror
Classificação Indicativa: 18 anos
Direção: Lucio Fulci
Roteiro: Lucio Fulci; Dardano Sacchetti, inspirado em história de H.P. Lovecraft Produção: Giovanni Masini
Produção Executiva: Robert E. Warner
Música: Fabio Frizzi
Fotografia: Sergio Salvati
Desenhos de Produção: Massimo Antonello Geleng
Efeitos Especiais: Gino De Rossi
Edição: Vincenzo Tomassi
Figurino: Massimo Antonello Geleng
Maquiagem: Franco Rufini; Rosario Prestopino; Luciano Vito Elenco: Christopher George (Peter Bell); Katherine MacColl (Mary Woodhouse); Carlo De Mejo (Gerry); Antonella Interlenghi (Emily Robbins); Giovanni Lombardo Radice (Bob); Daniela Doria (Rosie Kelvin); Fabrizio Jovine (Padre William Thomas); Janet Agren (Sandra); Luca Venantini (John-John Robbins); Michele Soavi (Tommy Fisher); Venantino Venantini (Mr. Ross); Enzo D'Ausilio; Adelaide Aste (Theresa); Luciano Rossi; Robert Sampson; Lucio Fulci (Dr. Joe Thompson)

  • NOTA: 9,0

Um comentário:

  1. olha amei o seu post...quanto as lagrimas de sangue eu vou te dizer o que eles fizeram, seria uma idéia, eles colocaram um colirio de cor vermelho nos olhos, e quando começou a escorrer eles fizeram essa parte com camera lenta, dando a idéia de que está saindo sangue durante horas nessa cena.

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