quinta-feira, 1 de abril de 2010

BEN-HUR (1959)



Grandiosidade. Esta é a palavra que resume os números megalomaníacos do épico “Ben-Hur”, superprodução dirigida por William Wyler e estrelada por Charlton Heston, que utilizou milhares de figurantes em aproximadamente trezentas locações, felizmente, para contar uma bela estória de forma bastante competente. Com cores vivas e um visual deslumbrante, o longa narra a trajetória de um jovem judaico que vive uma verdadeira odisséia na Judéia dominada por romanos nos tempos de Jesus Cristo – que, aliás, cruza seu caminho em momentos cruciais de sua vida.



O príncipe judeu Judah Ben-Hur vive com sua família na Judéia, na época em que Jesus começa a ser conhecido por sua pregações. Seu amigo de infância, Messala, é agora um ambicioso tribuno romano. Quando Ben-Hur se recusa a denunciar outros judeus para desarticular uma possível revolta contra os romanos, Messala aproveita a primeira oportunidade para se vingar de seu antigo amigo.Um acidente durante a visita do novo governador da Judéia faz com que pese sobre ele a acusação de responsável pelo atentado. Assim, apesar de inocente, Ben-Hur é condenado às galés, enquanto sua mãe, Miriam, e sua irmã, Tirzah, são presas e enviadas às masmorras pelo próprio Messala.Uma vez nas galés, ele salva o comandante da esquadra, Quintus Arrius, o qual, como prova de gratidão, o adota como filho e lhe dá pleno controle sobre o estábulo de cavalos de corrida.Ao retornar a Judéia, agora como cidadão romano, Ben-Hur parte em busca de sua família e é informado que todos estão mortos.Desafia, então, Messala para uma corrida de bigas. Durante a corrida, Messala acidenta-se ao tentar atingir Ben-Hur com o chicote, caindo de sua biga e sendo pisoteado pelos cavalos. Ben-Hur vence. Antes de morrer, porém, Messala revela o verdadeiro paradeiro de sua família - o vale dos leprosos. Depois da morte de Messala, Ben-Hur depara-se com seu grande desafio: perdoar.


"Ben-Hur" é, sem dúvida, o maior Épico bíblico de todos os tempos. Realizado pelo cineasta William Wyler, o filme narra a história de um rico príncipe judeu, que viveu na época de Cristo e que, injustamente, foi acusado de ter cometido um atentado contra um governador romano.Partindo de um ótimo roteiro, Wyler realiza um magnífico trabalho que fala de ambição, traição, vingança, bondade, amor e perdão. O valor dramático é fantástico e a história é cativante, o que faz com que as 3:40horas de projeção passem sem ser notadas.








São inúmeros os grandes momentos do filme como, por exemplo, a antológica seqüência da corrida de bigas.Para um filme que ganhou 11 Oscars da Academia de Hollywood e foi indicado a uma 12ª estatueta, é desnecessário dizer quão perfeito ele é em praticamente todos os quesitos.









Nosso herói, Judah Ben-Hur (Charlton Heston) é contemporâneo de Jesus Cristo. Preservava uma antiga amizade com um agora General Romano, Messala (Stephen Boyd), que procura seu apoio para dominar o sempre inquieto povo judeu.










Amigavelmente nega e em troca é castigado, como exemplo aos demais. Em desgraça, é condenado às galés. Em uma batalha naval, salva a vida de um Cônsul, Quintus Arrius (Jack Hawkins – um de meus atores favoritos) e em troca é adotado por este. Com prestígio, retorna à Judéia e lá reencontra seu ex-ex-amigo de infância (a repetição é proposital). Messala é desafiado em uma corrida de bigas, na qual é especialista: Messala contra Judah. E aí...





Reencontra também Jesus, e num gesto de piedade, retribui o favor de anos atrás. Sua provação é recompensada: reencontra, por fim, sua amiga/noiva, a mãe e a irmã – a família novamente é reunida. E Nosso Senhor cumpre sua sina.









Agora os superlativos: a trilha sonora de Miklós Rózsa, principalmente na batalha das galés (antes, durante e depois) – o ritmo das batidas do marcador para com os remadores integra a trilha sonora – fantástico; a corrida de bigas (que lembra muito um certo Episódio I de uma certa trilogia de um certo diretor - em tudo inferior ao filme de Willian Wyler). A suposta relação homossexual entre Messala e Judah, muito comentada pela crítica, mas sempre analisada superficialmente, também poderia se estender a este com Quintus Arrius – muito comum naquela época.









Fotografia excelente, roteiro excelente, direção excelente, que mais falta?









Ficha Técnica:

Gênero: Drama, Épico
Direção: William Wyler
Roteiro: Karl Tunberg
Produção: Sam Zimbalist
Design Produção: Vittorio Valentini
Música Original: Miklós Rózsa
Fotografia: Robert Surtees
Edição: Ralph E. Winters, John D. Dunning
Direção de Arte: William A. Horning, Edward C. Carfagno
Figurino: Elizabeth Haffenden
Guarda-Roupa: Jack Martell
Maquiagem: Charles E. Parker
Efeitos Sonoros: Franklin Milton, Milo B. Lory, Sash Fisher e outros
Efeitos Especiais: A. Arnold Gillespie, Lee LeBlanc, Robert R. Hoag
Efeitos Visuais: Robert MacDonald, Matthew Yuricich
Pais: Estados Unidos








Elenco:

Charlton Heston Judah Ben-Hur
Jack Hawkins Quintus Arrius
Haya Harareet Esther
Stephen Boyd Messala
Hugh Griffith Xeque Ilderim
Martha Scott Miriam
Cathy O'Donnell Tirzah
Sam Jaffe Simonides
Finlay Currie Baltazar
Frank Thring Pôncio Pilatos
Marina Berti Flávia
Enzo Fiermonte Oficial da Galé
Richard Hale Gaspar
André Morell Sextus
Terence Longdon Drusus
George Relph Tibério César
Hugh Billingsley Mário
Giuliano Gemma Romano
Claude Heater Jesus
Noel Sheldon Centurião








Oscar de Melhor Fotografia
Oscar de Melhor Filme
Oscar de Melhor Direção (William Wyler)
Oscar de Melhor Ator (Charlton Heston)
Oscar de Melhor Ator Coadjuvante (Hugh Griffith)
Oscar de Melhor Direção de Arte
Oscar de Melhor Edição
Oscar de Melhor Figurino
Oscar de Melhores Efeitos Sonoros
Oscar de Melhores Efeitos Especiais
Oscar de Melhor Trilha Sonora de um Musical







Indicações:

Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, EUA
Oscar de Melhor Roteiro Adaptado
Prêmios Globo de Ouro, EUA
Prêmio de Melhor Ator em um Drama (Charlton Heston)

quarta-feira, 31 de março de 2010

THE BEYOND (1981)



"Não tente entender e arrepie-se com um dos melhores filmes de Lucio Fulci!"

Lançado no Brasil primeiro como "Terror nas Trevas" e depois relançado com o péssimo título "A Casa do Além" (sendo que a história se passa não numa casa, mas em um hotel), THE BEYOND é o filme mais conhecido do mestre do horror e do "gore" europeu Lucio Fulci. Na ordem de preferência dos fãs do diretor, esta obra-prima do cinema dos anos 80, lançada em 1981, vem logo depois do clássico ZOMBIE (1979), realizado por Fulci para aproveitar o sucesso de "Dawn of the Dead", do americano George A. Romero.

O Filme merece o status de clássico pela suas antológicas cenas de extrema violência, que não poupam o espectador de closes em feridas abertas, cortes e mutilações diversas, uma particularidade do cinema sangrento de Fulci desde a época em que ele fazia "inocentes" filmes de bangue-bangue estrelados por Franco Nero, nos anos 70. O filme custou uma mixaria (400 mil dólares, que não pagam nem os 15 minutos iniciais de PREMONIÇÃO 2, por exemplo) e foi filmado em apenas cinco semanas!

O roteiro maluco, que mistura um hotel mal-assombrado com ataques de animais (no caso, aranhas que comem o rosto de um dos personagens e um cão que arranca a jugular de uma moça), profecias, livros satânicos, assassinatos, acidentes, demônios e mortos-vivos, alçou THE BEYOND ao status de "cult movie", sendo adorado por muitos cineastas respeitados, inclusive Quentin Tarantino, o diretor de "Jackie Brown" e "Pulp Fiction", que em entrevista à revista americana "Fangoria" considerou este um dos filmes mais assustadores de todos os tempos.

Nesse filme pouca coisa no roteiro faz sentido. E, dentro desta lógica, TUDO pode acontecer! Quando você pensa que tudo está calmo, fantasmas, animais demoníacos e até mortos-vivos podem aparecer de repente para atacar os personagens, deixando o espectador ansioso para prever o que acontecerá depois!

THE BEYOND começa com uma impressionante introdução filmada em tom de sépia (para dar uma idéia de filme antigo), na Lousiana de 1927. No rústico Hotel Seven Doors (Sete Portas), uma garota encontra um antigo livro com as profecias de Eibon, escritas há 4 mil anos. Estas falam sobre os sete portões do Inferno, que, quando abertos, liberarão o Mal sobre a face da Terra. Uma curiosidade interessante é que no filme anterior de Fulci, o ótimo PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS (Paura Nella Città dei Morti Viventi), feito no ano anterior (1980), também existe um livro demoníaco, com nome parecido (Enoch). Mas as histórias dos dois filmes, aparentemente, não têm nenhuma relação.


Ao mesmo tempo em que a mocinha lê o livro, o pintor Spike trabalha num mórbido quadro retratando o Mar dos Mortos, presente em outra das profecias de Eibon, enquanto aldeões com cara de poucos amigos aproximam-se do hotel em um barquinho. Logo, o pintor, que aparentemente também é dono do hotel, é aprisionado e torturado pelos habitantes da cidade, ao mesmo tempo em que blasfema dizendo que o lugar foi construído sobre uma das sete portas do Inferno (daí o nome do lugar, Seven Doors) e que se o matarem não haverá como conter o Mal que ali vive. Claro que não adianta avisar: furiosos sabe-se lá por quê, os aldeões pregam Spike na parede (close angustiante nos pregos penetrando nas mãos do coitado) e em seguida corroem seu rosto com cal!Um salto no tempo e vemos o Hotel Seven Doors na Lousiana de 1981 (a atualidade, nos tempos de lançamento do filme). Lisa, interpretada por Katherine MacColl (que trabalhou com Fulci no anterior PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS e voltaria a atuar com o mestre posteriormente, em A CASA DO CEMITÉRIO), discute sobre a restauração do local com o amigo Martin. A conversa encerra de forma trágica, com um dos trabalhadores caindo de um andaime e rachando a cabeça - mais um close sangrento, e olhe que não chegamos nem nos dez minutos filme  ainda!





É quando somos apresentados aos outros personagens-vítimas: há Arthur e Martha, esquisitos criados do hotel, e o dr. John McCabe, o médico da cidade, interpretado pelo simpático David Warbeck - com sua tradicional barba por fazer, apesar de seu personagem ser um médico. Uma curiosidade: apesar de Warbeck (cujo nome de batismo é David Mitchell) Joe, o encanador, vai detonar todo o horror do filme ao checar um vazamento de água no porão. Ao fazer desabar uma parede centenária, ele liberta o cadáver de Spike, transformado em morto-vivo, que rapidamente ataca o encanador e arranca seus olhos, em mais uma excelente cena de extrema violência preparada pelo mestre Gianetto de Rossi.


As autoridades não fazem nada, apenas levam ambos para o hospital e nem ao menos investigam ou fazem alguma coisa para descobrir o que aconteceu no porão!!! Como se fosse normal encontrar um cadáver putrefato de 80 anos de idade!!! Enquanto isso, Lisa conhece Emily, uma garota cega, que parece saber bastante sobre o hotel e sobre o tal livro de Eibon - tanto que tenta convencê-la a deixar o local e não voltar.



Está armado o cenário para mais um típico filme de Lucio Fulci. Efeitos e mortes exageradas (tem uma cena em que um cachorro rasga o pescoço de uma mulher e o sangue jorra intensamente), cenas repletas daquele "clima" italiano, com supercloses nos olhos dos atores e vítimas, música sempre a todo volume (o tema, assustador, é de Fabio Frizzi) e muita coisa louca acontecendo ao mesmo tempo. Lá pelas tantas o filme vira um verdadeiro "samba do crioulo doido", perde toda a sua lógica e fica simplesmente impossível tentar entender a história, então vai-se levando no piloto automático e apreciando as cenas de horror e morte.




Até o final a história se transformará definitivamente num pesadelo, pois tudo acontece sem que seus personagens (ou o espectador) entendam os motivos. Sabe quando você está sonhando uma coisa e de repente o "roteiro" do sonho muda radicalmente? Pois a sensação de ver THE BEYOND é a mesma! O mal que parecia condicionado ao tal hotel, de uma hora para a outra, se espalha, fazendo com que no final todos os habitantes da cidade viram zumbis. Misteriosamente, Lisa e o dr. McCabe são os únicos sobreviventes, tendo que abrir caminho à bala na tentativa de fuga. É o momento "Dawn of the Dead" do filme, quando Fulci parece homenagear seu próprio ZOMBIE (1979), ao apresentar zumbis cambaleantes agarrando os heróis e tomando sangrentos balaços bem no meio da testa.
















Resumindo: com todos seus erros e acertos, THE BEYOND é um filme obrigatório para quem pretende conhecer este tipo peculiar de cinema (o italiano), e especialmente para os fãs de violência explícita e mutilações. Eu pessoalmente o considero um dos melhores filmes feitos na década de 80, e uma das obras mais consistentes do diretor Lucio Fulci, cujos filmes costumam se destacar mais pelo sangue propriamente dito do que pelo conjunto da obra. Esta é uma rara exceção, pois mesmo se o filme fosse censurado nas cenas mais violentas (como aconteceu nos EUA), ainda assim manteria o interesse do espectador até o final. Uma filme com uma história meio confusa mas esta ai mais um clássico do Horror Italiano ao lado de Zombie (1979), Pavor Na Cidade Dos Zumbis (1980) e Casa Do Cemitério (1981).







THE BEYOND (The Beyond, Itália, 1981)

Duração: 87 minutos.
Direção: Lucio Fulci
Roteiro: Dardano Sacchetti e Lucio Fulci
Produção: Fabrizio De Angelis
Fotografia:Sergio Salvati
Edição: Vincenzo Tomassi
Música:Fabio Frizzi
Desenho de Produção: Massimo Lentini
Efeitos Especiais: Germano Natali
Direção de Arte: Alfredo D'Angelo; Franco Rinaldi e Rodolfo Ruzza
Elenco: Catriona MacColl (Liza Merril); David Warbeck (Dr. John McCabe); Cinzia Monreale (Emily); Antoine Saint-John (Schweick); Veronica Lazar (Martha); Anthony Flees (Larry); Giovanni De Nava (Joe); Al Cliver (Dr. Harris); Michele Mirabella (Martin Avery); Gianpaolo Saccarola (Arthur); Maria Pia Marsala (Jill); Laura De Marchi (Mary-Ann)

Gênero: Terror
Classificação Indicativa: 18 anos


NOTA: 9,0

terça-feira, 30 de março de 2010

A CASA DO CEMITÉRIO (1981)




Realizado em 1981, A CASA DO CEMITÉRIO é considerado por muitos como o último grande filme de horror de Lucio Fulci. Historicamente, ele fecha um ciclo de excelentes filmes de horror feitos pelo cineasta para o produtor italiano Fabrizio De Angelis e sua Fulvia Films. Esta colaboração iniciou em ZOMBIE, de 1979. Até então, Fulci era mais conhecido como diretor de faroestes e suspenses "giallo", tendo pouca relação com o sobrenatural e a carnificina dos filmes de horror.
A partir de ZOMBIE, Fulci começou a dirigir dois filmes de horror por ano, normalmente com produção assinada por De Angelis. Iniciou com o ótimo PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS (Paura Nella Città dei Morti Viventi), de 1980, disponível em VHS no Brasil. Em 1981 fez dois: o clássico THE BEYOND e a adaptação de Edgar Allan Poe BLACK CAT (uma tentativa de abandonar o cinema "gore" e tentar um horror discreto, mais próximo do inglês; este filme é inédito no Brasil e não foi produzido por De Angelis). Enfim, em 1982, lançou o "giallo" NEW YORK RIPPER (inédito no Brasil) e este A CASA DO CEMITÉRIO, que de certa forma encerra uma "quadrilogia" sobre mortos-vivos e cemitérios, iniciada em ZOMBIE, passando por PAVOR... e THE BEYOND.
Os filmes de Fulci feitos a partir de A CASA DO CEMITÉRIO ficariam bem longe do material apresentado até então (MANHATTAN BABY, ENIGMA DE UM PESADELO, MURDER ROCK e outras são produções bem fraquinhas. Por isso, podemos analisar A CASA DO CEMITÉRIO como uma espécie de despedida de Lucio Fulci dos seus grandes filmes de horror, partindo depois para produções mais convencionais e sem graça.




O filme começa com uma cena excelente: uma misteriosa menina aparece na janela da mesma casa, e subitamente a imagem congela e passa de colorido a preto-e-branco. A câmera se afasta e descobrimos que aquele é o detalhe de um velho retrato do casarão, pendurado na parede do apartamento de um historiador nova-iorquino, o dr. Norman Boyle (Paolo Malco, em excelente atuação).



Bob (Giovanni Frezza, que trabalhou com Fulci também em MANHATTAN BABY), filho pequeno de Boyle, está olhando o retrato enquanto sua mãe Lucy (Katherine MacColl, a mesma de PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS e THE BEYOND) empacota coisas para a mudança. É quando Bob pergunta para a mãe: "Por que aquela garotinha fica dizendo para eu não ir para lá?". Lucy vai examinar o retrato e a mesma janela onde a menina estava agora tem uma cortina cobrindo a imagem. Ela acredita que o garoto está brincando. Mas é só saírem da sala para a câmera voltar para um close no retrato, e novamente a menina aparece na janela, com a mão encostada no vidro, uma advertência para que Bob fique longe daquela casa!
Corta para o dr. Boyle conversando com o professor Müller (Lucio Fulci, em participação especial não-creditada). Ficamos sabendo que ambos integram a Sociedade Histórica de Nova York, e que um amigo e colega de Boyle, o dr. Eric Petersons, que fazia uma pesquisa histórica em New England (Boston), recentemente matou a amante, Sheila, e depois enforcou-se na biblioteca onde fazia suas pesquisas. Müller pede que Boyle viaje para Boston e fique por lá seis meses, para encerrar a pesquisa de Petersons, recebendo uma generosa soma em dinheiro como incentivo.
Norman se muda com a família para New England, mas como Lucy demorou muito tempo para decidir-se a acompanhar o marido, a casa originalmente alugada por ele foi ocupada por outro inquilino. Assim, a corretora de imóveis Laura Gittleson (Dagmar Lassander) oferece ao casal, por uma bagatela, uma velha casa histórica em estilo vitoriano. Um pirulito para quem não adivinhar que é a mesma casa dos assassinatos no início do filme. Quando ela comenta sobre o imóvel, seu assistente, Harold, murmura, misteriosamente: "A casa de Freudstein!". Mas, sem dar maiores esclarecimentos, Laura leva o casal até o casarão e entrega as chaves do lugar. Lucy fica fascinada com o fato de a casa ser idêntica à do retrato pendurado no apartamento do casal, mas Norman a tranqüiliza dizendo que existem muitas casas parecidas naquela região. Mas é, sim, a mesma casa. Detalhe: é o mesmo casarão, também, onde morava o suicida dr. Petersons, e o mesmo cenário onde ele matou a amante! Paralelamente, Bob encontra a garotinha da foto, aquela que o aconselhava a não ir até a casa. Seu nome é Mae, e ela é um daqueles tipos fantasmagóricos de filmes de horror: aparece e desaparece, fala por enigmas, só é vista pelo garotinho, mas não pelos adultos, e parece ser um prenúncio do horror. Mae adverte Bob: "Eu avisei que era para você não vir para cá!". :"Eu falei para meus pais, mas eles não me escutaram. Você sabe como são os adultos!", responde o garoto. Na mesma cena, Mae olha para o manequim de uma vitrine e, subitamente, a cabeça do boneco cai, jorrando sangue! Loucura? Alucinação? Não... Premonição!


Enquanto o casal Boyle se estabelece no casarão, aparece a misteriosa Ann (Ania Pieroni), uma baby-sitter, aparentemente recomendada pela imobiliária. "Misteriosa", porque Ann é idêntica à tal manequim decapitada vista por Mae na loja momentos antes. Mais uma vez demonstrando seu fetiche por olhos, Fulci escolheu a atriz Ania pelo fato de ela ter belos olhos azuis, que o diretor faz questão de mostrar em closes o tempo todo. O casarão é sinistro. Barulhos estranhos amedrontam os novos moradores, o lugar é escuro e tétrico, há teias de aranha e a porta do porão foi barricada para que ninguém pudesse entrar. Remexendo nos arquivos do falecido Petersons, Norman encontra uma pasta antiga com o nome que tinha escutado anteriormente na imobiliária, "Freudstein", mas a pasta está vazia. Ele então vai à biblioteca da cidadezinha, onde o colega se matou, e descobre que a pesquisa histórica que Petersons vinha fazendo sobre New England mudou de foco nos últimos tempos: o novo alvo da investigação era o dr. Jacob Alan Freudstein, um cirurgião que viveu no século 19 e aparentemente fez experiências ilegais com seres humanos, sendo banido e proibido de exercer a profissão. A casa onde Freudstein vivia é a mesma onde a família Boyle atualmente está morando, e a mesma onde Petersons matou a amante. Em um velho documento, Norman descobre mais sobre a trama: "7 de junho de 1875 - O dr. Freudstein é suspenso pela Associação dos Médicos e proibido de praticar medicina para o resto da vida".

No casarão, Lucy e Bob fazem suas descobertas também. O garoto, brincando com Mae (menina que, volto a frisar, só ele vê), vai ao cemitério e descobre um túmulo que diz "Mary Freudstein". Mas Mae faz uma colocação misteriosa: "Ela não está enterrada aí! É tudo mentira, eu sei!". Já Lucy, limpando a casa, encontra uma sepultura debaixo de um tapete, no piso da construção, com os dizeres: "Jacob Alan Freudstein".Até então, A CASA DO CEMITÉRIO se desenvolve com ênfase no suspense, no mistério, na investigação. Quando a porta bloqueada do porão é aberta por Norman, que resolve investigar o que tem lá embaixo, na volta da biblioteca, a sangreira e o "gore" têm início. Afinal, ainda estamos vendo um filme de Lucio Fulci. O historiador desce ao escuro porão para investigar o que existe lá de tão terrível, mas é atacado por um morcego, que crava suas presas na mão de Norman. Ele não consegue arrancar o bicho de jeito nenhum, então pega uma faca e o apunhala repetidas vezes, em uma cena bem sangrenta.

Norman decide sair da casa com a família e chama a corretora Laura para lhes mostrar um outro imóvel. Infelizmente, a mulher vai à casa no momento em que a família não está e, sozinha, vira alvo fácil de um misterioso assassino, que se esgueira pelas sombras e a apunhala com um espeto. A cena é longa e violentíssima, culminando com uma espetada no pescoço e o close do buraco jorrando sangue, muito bem feito. Ainda no aguardo de que Laura lhes mostre uma nova casa, sem saber que ela foi morta (o corpo desapareceu), a família Boyle permanece por mais um dia na casa. Mas Norman, ainda investigando a papelada do colega morto, encontra uma fita gravada por Petersons, com voz alucinada de quem perdeu o juízo, dizendo: "Fazem dias e dias que parei de trabalhar nisso... Não como, não durmo... Não posso parar agora! Perdi toda a perspectiva crítica! Os sinais! O aviso da casa... A casa de Freudstein! Ela me chama como um imã do inferno! A casa de Freudstein! O cheiro de sangue... Quantos ainda virão?".



A próxima vítima do furioso psicopata que vive na casa de Freudstein é a babá Ann, que desce ao porão, alheia ao perigo, e a porta bate, se fechando. Uma misteriosa figura sai das sombras com uma faca brilhante. Ann bate violentamente na porta, tentando fazer com que Bob vá abri-la, mas é inútil: o assassino corta o pescoço da garota múltiplas vezes, em uma das mais realistas cenas de garganta sendo cortada da história do cinema! Sabe aqueles filmes tipo SEXTA-FEIRA 13 onde o assassino passa a faca no pescoço da vítima e escorre um filetinho de sangue, Pois é: aqui a maquiagem é tão bem feita que Fulci dá um close, mostrando como a faca está cortando a "carne", afundando no "pescoço" da vítima, não uma, mas três vezes, deixando a garganta da moça literalmente aberta, até decapitá-la! este é um dos momentos mais violentos de toda a obra de Lucio Fulci, e certamente de todos filmes de Terror já lançados.






A partir de então, o mistério da casa de Freudstein passa a ameaçar a família Boyle. Norman continua suas investigações e descobre que a solução para os misteriosos fenômenos pode estar na figura do próprio dr. Jacob Freudstein, cujo túmulo ele não consegue localizar. Será que o assassino que ataca na casa é o próprio Freudstein, um cirurgião do século 19, mantido vivo por algum processo misterioso ou força satânica? Ou será, ainda, que Norman enlouqueceu como o seu colega e está matando a todos, influenciado por alguma força diabólica presente naquela casa? A solução do mistério só virá no sangrento final, que envolve a família toda no escuro e tétrico porão da "casa do cemitério", onde Fulci nos brinda com mais uma rodada de violência explícita, nojeiras variadas e muito suspense! A CASA DO CEMITÉRIO é um filme simplesmente perfeito, desde a criação do clima de mistério e horror até os efeitos "gore". Considerando o restante da obra do diretor, nesta a contagem de cadáveres é relativamente baixa, pois o filme prioriza o suspense e a investigação. Mas vale a pena esperar: sempre que acontece alguma morte, ela é violentíssima, gráfica, sangrenta e hedionda, como poucas vezes o cinema de horror já mostrou (curiosamente, quase todas envolvem o pescoço das vítimas, que é cortado, furado, rasgado, mutilado...). Talvez o filme funcione tão bem porque Fulci está cercado da sua equipe preferida em grande forma (afinal, eles vinham trabalhando com o diretor desde 1979...). Até mesmo no elenco, considerando que Katherine MacColl está em seu terceiro filme com direção de Fulci. A fotografia é de Sergio Salvati, colaborador habitual do diretor, e a edição ficou a cargo de Vincenzo Tomassi, que abre mão do estilo frenético dos filmes anteriores. A maquiagem, desnecessário dizer, é do "mestre" Gianetto de Rossi, mais inspirado do que nunca.



A história também tem um ar "Edgar Allan Poe", com casarões assombrados, cemitérios e uma criatura que vive no escuro porão da casa (já repararam em quantos filmes, de EVIL DEAD à série AMITYVILLE, a ameaça sobrenatural vem do porão????). Fulci não nega esta inspiração literária, tanto que encerra o filme com uma frase do escritor Henry James, que diz: "Ninguém nunca vai saber se as crianças são monstros ou se os monstros é que são crianças".


A CASA DO CEMITÉRIO é o filme ideal para quem quer ter uma primeira impressão sobre o tão falado cinema de horror europeu, ou mesmo sobre a filmografia de Lucio Fulci, pois é um filme mais convencional, com uma história boa, nada tão alucinado quanto outros filmes do período e do mesmo diretor. É quase um filme sobre casas mal-assombradas, semelhante àqueles feitos na Inglaterra e nos Estados Unidos - apenas com o sangue e a violência quintuplicados! E é ver cenas como a chocante revelação final no porão da casa de Freudstein para perceber como os filmes de hoje, definitivamente, têm muito que aprender com estes pequenos clássicos feitos na Itália no início dos anos 80...

A CASA DO CEMITÉRIO
(House by the Cemetery/Quella Villa Accanto al Cimitero, Itália, 1981). 87 minutos
Gêneros: Suspense, Terror
Classificação Indicativa: 18 anos
Direção: Lucio Fulci
Roteiro: Lucio Fulci; Elisa Briganti
Produção: Fabrizio De Angelis
Fotografia: Sergio Salvati
Música: Alexander Blonksteiner; Walter Rizzati
Edição: Vincenzo Tomassi
Efeitos Especiais: Giannetto De Rossi
Desenho de Produção: Massimo Lentini
Elenco: Catriona MacColl (Lucy Boyle); Paolo Malco (Dr. Norman Boyle); Ania Pieroni (Ann, a babá); Giovanni Frezza (Bob Boyle); Silvia Collatina (Mae Freudstein); Dagmar Lassander (Laura Gittleson); Giovanni De Nava (Dr. Jacob A. Freudstein); Daniela Doria (primeira vítima); Gianpaolo Saccarola (Daniel Douglas, o bibliotecário); Carlo De Mejo (Mr. Wheatley)


  • NOTA: 9,0